Biodiversidade Biotecnologias Biossegurança

Este Blog foi originalmente criado para os eventos da COP-8 e MOP-3 realizados em março de 2005/Curitiba. Devido à importância de tais temas para a humanidade, a Revista Consciência.net continuará repassando informações relacionadas, incluindo comentários e matérias pertinentes. Boa leitura! Editores responsáveis: Clarissa Taguchi, Paula Batista e Gustavo Barreto. Da revista Consciência.Net - www.consciencia.net

sexta-feira, abril 07, 2006

Desculpas para não agir

Em recente artigo para o Estado de São Paulo (31/3/2006), o jornalista Washington Novaes questiona: " Qual é a urgência real para as transformações nos nossos modos de viver implícitas nos compromissos assumidos pelos países ao assinarem convenções como a do clima, do combate à desertificação ou da diversidade biológica (esta última tem o encerramento da oitava reunião das partes previsto para hoje em Curitiba)? Quanto tempo o mundo pode esperar pelo cumprimento de objetivos como os das Metas do Milênio? Serão as grandes convenções internacionais caminho eficiente para chegar a transformações que assegurem condições para a vida no planeta e a redução das brutais desigualdades entre seres humanos, países, regiões?".

Para os movimentos ambientalistas, a maior parte dos assuntos é de urgência urgentíssima, e como ambientalista, eu, Clarissa Taguchi, concordo plenamente com eles. Só não concordo com a maioria dos jornalistas que tem feito a cobertura dos eventos da ONU em Curitiba. Não sei quanto aos demais leitores, mas quando leio a maioria dos artigos a respeito tenho a sensação de que não seria perda de tempo ou gasto desnecessário reunir o mundo para discutir meio ambiente?

Passa pela minha cabeça, também, se não seria pressão política; ou se não seria nosso provincianismo que por mais bem representados nos encontremos, ainda trata-se de uma brasileira no poder. E como mulher brasileira, não vejo a maioria dos brasileiros aceitar de bom e pleno agrado, uma mulher no comando. Tem que haver um problema.

Para Paula Batista, jornalista presente à COP e MOP, "fazer um texto sem saber como foram as outras CDBs, gera isso, faz o evento parecer um fracasso geral, e uma briga política só. Não é bem assim, e o fato me preocupa, pois cada dia mais vejo a imprensa observar fatos bons, e conseguir transformá-los em depreciativos, em problemas, porquê não um olhar apreciativo? Isso acontece só porque o evento foi no Brasil, se fosse em outro lugar, será que ia sair como fracasso, também? Será que é porque a Marina, do PT, está no comando? Me questiono isso. É pura falta de conhecimento ou dão muito descrédito à ONU e a qualquer tentativa de reunir países para discutir em conjunto. Bem, além da ONU, qual outra instituição consegue fazer 188 países sentarem, por três semanas, e discutirem?".

Falamos em artigos, vírgulas, colchetes e outras pontuações como se os eventos se resumissem à correção de uma prova de português (ou inglês, a língua oficial da CDB). Tratados internacionais, mecanismos de ações multilaterais, protocolos e regimes internacionais não são meros textos escritos para que 188 delegados e chefes de estado corrijam os erros que convenham achar. Foi tratado nessa Convenção, formas de se tratar a Biodiversidade, não a resolução de todos os problemas ligados a ela. Por mais devagar que as coisas possam parecer, é preciso ver a posição de todos os lados e construir um caminho conjunto, falar que é blá-blá-blá é que não adianta.

Para Paula, "se a queda dos colchetes, não é uma avanço para muitos, a meu ver é. Não vamos precisar, na próxima COP, debater novamente isso. A discussão pode ser outra, avançada... mas a outra COP será na Alemanha, e os jornalistas brasileiros não vão estar nem aí para o que acontece lá, e daí, quem sabe, as informações cheguem de modo mais coerente aqui..."

Como duas pessoas, acreditamos na proposta e na atuação da ONU, afinal quem consegue reunir o mundo inteiro para conversar? Como duas pessoas, acreditamos no engajamento pessoal frente a desafios que englobam o planeta, e como duas pessoas acreditamos que as transformações são possíveis como reflexo de cada ser, e se juntos podemos formar uma Convenção, por que desacreditá-la?


Clarissa Taguchi e Paula Batista