Pesquisadores brasileiros defendem pesquisas de campo com sementes suicidas
A cientista e professora da Esalq - Escola Superior de Agronomia Luís de Queiroz, da USP - Universidade de São Paulo, Luciana Di Ciero, classificou de terrorista a campanha que as organizações não-governamentais (ONGs) e os movimentos de trabalhadores rurais estão fazendo contra as sementes suicidas (ou sementes estéreis, ou terminator).
"As sementes estéreis não vão prejudicar o agricultor familiar, porque é uma tecnologia cara que não será destinada a eles", explicou Luciana Di Ciero. "Além disso, a gente tem já plantas estéreis, que são as variedades híbridas, como beringela, beterraba e a maior parte dos legumes. Também não se podem replantar as sementes delas e as pessoas aceitam isso bem."
Segunda ela, tem ocorrido um equívoco de se chamar de terminators todos os tipos de GURTs (tecnologidas genéticas de restrição de uso), que, na verdade, se dividem em dois grandes grupos, dos quais um não é estéril.
Um dos tipos é conhecido com t-GURTs (t de trait, que significa característica): é quando a semente é geneticamente modificada para que expresse uma característica apenas diante de determinada condição ou produto. "Você pode desenvolver um gene resistente a uma praga. Aí você borrifa a semente com um produto e vende. Das sementes daquela planta nascerão vegetais que só manifestarão aquela característica se o produto for usado de novo", detalhou Di Ciero. "Ou pode ser também uma planta resistente à seca, mas que tenha um gene cuja característica não se manifeste com muita umidade, por exemplo. A gente tem isso naturalmente: há características nossas que só se revelam diante de determinadas condições externas."
O outro tipo, o mais polêmico, são as v-GURTs (v de variety , ou variedade): sementes das quais nascem plantas cujas sementes são estéreis. "Você restringe a propagação daquela variedade. Isso pode ser útil para evitar que uma planta transgênica criada para produzir um tipo de medicamento se espalhe pelo meio ambiente, cruzando com outras espécies", argumentou a pesquisadora. "A cana gasta 30% de seu sacarose para germinar. Se a gente desenvolver um gene que impeça esse florescimento, aumentaremos a produtividade da plantação."
Um dos temas de maior polêmica da COP8 - 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica é a possibilidade de que as pesquisas de campo com sementes estéreis – proibidas desde 2000 – sejam avaliadas "caso a caso".
Uma nota do MRE - Ministério das Relações Exteriores lembrou que a posição brasileira sobre o tema baseia-se na Lei de Biossegurança, publicada no ano passado, que proíbe a utilização, comercialização, registro, licenciamento e patenteamento de plantas manipuladas geneticamente para ficarem estéreis. Na convenção, o país tem liderado os países que são contrários à possibilidade de autorização para pesquisas de campo – opondo-se ao grupo favorável, liderado pela Nova Zelândia (e influenciado pelos Estados Unidos, que não são signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica, mas participam da COP-8 como observadores).
O pesquisador de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, Fábio Freitas, porém, defendeu que as pesquisas de campo possam ser autorizadas. "O transgênico é uma ferramenta como outra qualquer: tem prós e contras. Seu uso deve ser controlado, mas a tecnologia em si não pode ser cerceada", ponderou. "A Embrapa, de maneira geral, é favorável às pesquisas, desde que elas sigam a legislação." (Thaís Brianezi/ Agência Brasil)
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