Geógrafa diz que monocultura do eucalipto tira empregos e traz poucas oportunidades de trabalho
Brasília, 18/3/2006 da Agência Brasil
A monocultura do eucalipto tira empregos e traz poucas oportunidades de trabalho para os brasileiros, afirma a técnica da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), a geógrafa Daniela Meirelles. "As plantações de eucalipto tiram muitos empregos, na medida em que esse é um sistema altamente mecanizado, que tem que produzir em pouquíssimo tempo a maior quantidade possível de árvores", afirma Daniela.
De acordo com a técnica, o modelo de emprego gerado pelas indústrias de celulose (matéria-prima retirada do eucalipto) privilegia trabalhadores especializados. "Os empregos de fato estão nos países do norte, onde esses sim produzem os grandes maquinários que são exportados para cá para produzirmos a celulose", diz.
Ela também acusa a monocultura do eucalipto de ocupar terras que antes eram habitadas por populações indígenas e quilombolas, que antes desenvolviam o local com a cultura tradicional ou com a produção de alimento e o artesanato. Segundo ela, terras de populações indígenas e quilombolas foram desapropriadas ilegalmente na época da ditadura para darem lugar às plantações de eucalipto, que hoje se concentram principalmente no norte do Espírito Santo.
"O primeiro grande impacto social é essa retirada das pessoas da terra, com todas as implicações e prejuízos aos conhecimentos tradicionais, a todo um saber passado de geração em geração, quer seja em relação a sementes, à agricultura, um vasto conhecimento que é desperdiçado pela troca com o eucalipto", diz a técnica.
No Espírito Santo, dados da Fase indicam que 60 mil famílias sem-terra aguardam assentamento. Dessas, duas mil estariam acampadas na rua. "A reforma agrária não tem avançado em grande medida justamente porque as monoculturas vêm ocupando solos que eram para serem desapropriados", afirma.
Como membro da Rede Alerta contra o Deserto Verde, Meirelles sugere que haja um reflorestamento com matas nativas, para garantir a biodiversidade em detrimento das monoculturas. A proposta da Fase, segundo Daniela, é pensar projetos de reforma agrária que valorizem os agricultores.
"Trabalhamos na perspectiva de valorização e de garantia dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais de toda a população tradicional indígena, quilombola, ribeirinha e numa valorização desse conhecimento tradicional com outras perspectivas e outros projetos de desenvolvimento possíveis". Atualmente, vivem no norte do estado do Espírito Santo 35 comunidades quilombolas e nove aldeias de índios guaranis e tupiniquins.
Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
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