Milho é símbolo da luta contra transgênicos
16/03/2006
Folha de Londrina – PR
Geral
Polinização aberta facilita contaminação por plantações transgênicas vizinhas, mesmo distantes, alertam ambientalistas
Quando o assunto é plantação transgênica a soja talvez seja a cultura mais lembrada entre os brasileiros que acompanham a 3 Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena (MOP3), em Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba). Mas o milho ganha destaque entre os movimentos sociais quando se trata de combate aos transgênicos. E ele até virou símbolo da luta, conforme enfatizou Marcelo Passos, integrante da Rede Ecovida. A explicação é simples: ao contrário do trigo e da soja, por exemplo, o milho possui polinização aberta, o que facilita sua contaminação por plantações transgênicas vizinhas.
´´Uma plantação de milho pode ser contaminada por outra (transgênica) mesmo se elas estiverem a mais de 500 metros de distância uma da outra´´, informou Passos. No Brasil, plantação de milho transgênico é proibida, mas existe, segundo Passos, uma pressão por parte da área do agronegócio para que o País tome o mesmo rumo da Argentina, por exemplo.
´´Lá eles liberaram, mas aqui nós pretendemos inclusive enviar uma carta ao governo federal de repúdio ao milho transgênico´´. A carta deverá ficar pronta após as discussões na MOP3, na próxima sexta-feira. O caso mais lembrado pelos participantes do Fórum Global da Sociedade Civil - evento paralelo à MOP3 - se refere à plantação de milho no México.
De acordo com Alberto Gomez, da União Nacional de Organizações Regionais Camponesas (Unorca) do México, o fato do País depender dos Estados Unidos da América (EUA) para obter produtos da alimentação básica ocasionou na contaminação das variedades de milhos crioulos.
Segundo Gomez, cerca de 50% dos alimentos do México são importados dos EUA. Por isso, o trabalho de entidades como a Unorca é a partir de agora voltado à conscientização dos consumidores sobre produtos transgênicos e ao incentivo às plantações orgânicas dos pequenos agricultores. Mariam Mayet, do African Center for Biosafety, destaca que a importação de transgênicos é permitida apenas no Sul do continente. O problema, segundo ela, ´´é que num contexto onde não há mercado, o sistema é usado para convencer os produtores a usarem sementes transgênicas´´.
Mayet se refere ao fato de alguns governos distribuírem gratuitamente sementes transgênicas, como parte de um pacote de reforma agrária. Apesar disso, a maioria dos governos africanos estão receosos.
O uso dos transgênicos teria feito com que os EUA iniciassem uma série de restrições aos países africanos. Além de ser considerado alimento principal em algumas regiões da África, o milho também tem valor ´´espiritual´´, conforme Luiz Gonçalves, da Associação Cooperativa de Idéias e Soluções para o Ecodesenvolvimento (Ecootopia), do Paraná. ´´O milho era o cereal dos povos originários da América, base da nossa cultura alimentar´´. E para resgatar tal cultura, o fórum será palco hoje, às 18 horas, de um ritual intitulado Mística do Milho.
Até sexta-feira, a Rede Ecovida organiza a Festa do Milho para mostrar a rica culinária à base do milho aos participantes da MOP3. Ontem, delegados de 15 países participantes da MOP3 estiveram ontem no Porto de Paranaguá para conhecer a capacidade técnica do Paraná no controle e fiscalização de Organismos Geneticamente Modificados. O Porto de Paranaguá é área livre de transgênicos há três anos por decisão do governo do Estado.
Por Catarina Scortecci
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