Empresas de biotecnologia e ONG divergem sobre transgênicos
Instituição britânica divulga dados sobre a expansão dos cultivos de transgênicos no mundo todo. Por outro lado, ONG afirma que cresce a rejeição do mercado consumidor aos OGMs
São Paulo - Na semana passada, dois relatórios sobre o cultivo mundial de transgênicos foram divulgados. O interessante, no entanto, é que eles trazem perspectivas e avaliações conflitantes sobre a situação da transgenia no mundo. De um lado, o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA, sigla em inglês), entidade fundada e financiada por empresas de biotecnologia como a Monsanto e a Syngenta, afirma que os cultivos de organismos geneticamente modificados (OGMs) aumentaram, entre 2005 e 2006, 13% - ou 12 milhões de hectares - e continuarão crescentes nos próximos anos.
Do outro, a organização não-governamental Greenpeace rebate os resultados e afirma que 2006 foi o ano da rejeição aos transgênicos por parte de consumidores, produtores e governos do mundo todo.Segundo o ISAAA os transgênicos têm se alastrado pelos países, ocupando uma área de 102 milhões de hectares. O presidente do ISAAA e autor do relatório, Clive James, espera que nos próximos 10 anos os cultivos se expandam. "Até 2015, a ISAAA prevê que mais de vinte milhões de agricultores cultivem duzentos milhões de hectares de plantações biotecnológicas em cerca de quarenta países", afirma James.
O Greenpeace restringe a maior parte da expansão dos transgênicos no último ano a apenas três países, que são justamente aqueles que encabeçam o ranking de maiores produtores de OGMs: Estados Unidos, Argentina e Brasil, os únicos a terem um aumento acima dos 10%: 53,5%, 17,6%, 11,3%, respectivamente.
Frank Guggenheim, diretor executivo do Greenpeace Brasil, afirma também que o mercado de alimentos para o consumo humano tem enfrentado rejeição, especialmente pelos europeus e chineses. O diretor da ONG aponta que um recente agravante para a resistência contra as OGMs foi o episódio da contaminação do arroz nos EUA, em agosto de 2006, por uma variedade geneticamente modificada da empresa de biotecnologia Bayer, o LLRICE601. Na época, ela ainda não estava legalizada no país. De acordo com o Greenpeace, houve manifestações contrárias por parte de produtores e processadores de arroz e de governos de outros países que rejeitaram a importação da safra.
Se antes o processo de disseminação da transgenia alcançava os países desenvolvidos, atualmente são nos países em desenvolvimento da América Latina, do leste europeu e da África que as empresas de biotecnologia vêm incentivando e apostando as suas pesquisas e investimentos. O relatório do ISAAA indica que o maior crescimento se deu em países em desenvolvimento - 21% de aumento contra 9% dos países desenvolvidos. Atualmente, os países em desenvolvimento representam 40% dos plantios de OGMs.Para o setor de transgênicos em 2007, o Greenpeace prevê a permanência da rejeição dos mercados consumidores, como os da China e os da Índia, o aumento dos prejuízos comerciais devido às contaminações genéticas e a falência de métodos de produção dos OGMs, principalmente por causa do aumento do uso de herbicidas.
Brasil
O Brasil continua ocupando a mesma posição do ano passado no ranking dos países com maior área cultivável de OGMs, perdendo apenas para os Estados Unidos (54,6 milhões) e a Argentina (18 milhões). Segundo o relatório do ISAAA, o país aumentou 2,1 milhão de hectares entre 2005 e 2006, o que totaliza uma área de 11,5 milhões de hectares destinada aos plantios de soja e algodão geneticamente modificados. O crescimento brasileiro na área da transgenia foi de 22%.
O ISAAA aponta que, num período de dez anos, o Brasil irá ultrapassar a Argentina. "O crescimento que se espera para os próximos dez anos será impulsionado pelo milho transgênico, que está para ser aprovado pela CTNBio [Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia], e também pelo algodão e pela cana-de-açúcar modificada, cujas pesquisas estão avançando muito", aposta o diretor do ISAAA no Brasil, Anderson Galvão.
(Fonte: Agência Carta Maior, por Natália Suzuki)
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