Transnacionais se apossam da biomassa
Por Adriano Benayon
16/3/2007
Tribuna da Imprensa - O que está em andamento é a tomada pelo capital estrangeiro da produção de álcool (etanol) e de outros derivados das plantas. Em suma, da energia da biomassa. Esta já é uma das principais fontes do presente, e não apenas a predominante em futuro próximo. Os que a controlarem terão assegurado posição estratégica privilegiada no poder mundial, reforçada pelos fabulosos ganhos econômicos que dela fluirão.
Graças à sua excepcional dotação de território aproveitável, de água e sol, o Brasil tem o potencial de ser o maior produtor mundial dessa energia. Mas, dado o modelo econômico subordinado que se implanta no Brasil há mais de 50 anos, o País caminha para a pior das servidões, pois sua fabulosa dotação de recursos naturais está sendo explorada por transnacionais das potências hegemônicas, prontas para dominar a biomassa, como já dominam a comercialização do agronegócio.
Nada mais fácil para as corporações mundiais que abocanhar a biomassa, uma riqueza muito mais fantástica que o ouro das Minas Gerais no Século XVIII. Isso porque o Brasil é um País aberto ao capital estrangeiro, ao qual pertence a produção industrial e os demais setores da economia. Pior, obtém tudo isso com o nosso dinheiro, que o "governo" submisso lhe transfere como subsídios, ademais dos ganhos que o mercado brasileiro lhe proporciona, remetidos ao exterior por meio de mais de uma dezena de mecanismos.
O modelo político e econômico subordinado já conduziu o Brasil ao desemprego de 30 milhões de brasileiros, a vergonhosas condições de saúde e de educação, à proliferação do crime organizado, ao definhamento da classe média, à queda contínua dos salários reais, ao sucateamento da infra-estrutura e das Forças Armadas.
O País está escancarado para que transnacionais se apoderem do que será o mais estratégico e maior setor da economia mundial. Que restará ao Brasil senão revogar o decreto da Princesa Isabel de 1888, da Abolição da escravatura?
Para ser profeta basta entender o presente e as lições do passado. Há casos históricos de reinstituição do regime de servidão por se terem países especializados na produção de matérias-primas destinadas ao comércio mundial. Por exemplo, a Polônia do Século XVIII, uma grande potência no XVII, transformada em exportadora de cereais sob a direção dos comerciantes e banqueiros de Amsterdam.
Que foi feito no Brasil para facilitar a apropriação da biomassa pelos concentradores mundiais? Alijar os pequenos produtores, por meio de regulamentação instituída por imposição do Banco Mundial, o que fez centralizar a produção em grandes usinas. Assim, a cana-de-açúcar é transportada a grandes distâncias (em caminhões movidos a óleo diesel de petróleo), e o mesmo ocorre com o álcool.
Adriano Benayon é doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha, e autor de "Globalização versus Desenvolvimento" benayon@terra.com.br
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