Biodiversidade: O livro da vida em código de barras
Por Stephen Leahy, da IPS
Toronto, 21/02/2007 – Especialistas descobriram 50 novas espécies de aves após a primeira mostra genética de quase todas as 690 conhecidas na América do Norte. O processo foi possível graças a uma nova técnica de análise que demora apenas três horas e custa US$ 5. Um processo semelhante de análise do DNA (ácido desoxirribonuclêico) acrescentou seis às 87 espécies já registradas de morcegos na guiana. O olho e o ouvido humanos quase não distinguem as novas espécies além daquelas que já tem conhecimento.
Entretanto, a análise genética mostra que o DNA de diversas variedades evoluíram por caminhos diferentes há milhões de anos, segundo pesquisas publicadas no domingo pela revista científica britânica Molecular Ecology Notes (Notas de Ecologia Molecular). “O código de barras do DNA transformará os esforços para a proteção e conservação da biodiversidade mundial”, disse à IPS Paul Herbert, do Instituto de Biodiversidade de Ontário, na Universidade de Guehph, no Canadá. “Não se pode proteger o que não se pode identificar”, explicou o cientista.
O habitat do zarapico, uma ave costeira norte-americana, sofre tremenda pressão do setor da construção e pela mudança climática. Agora sabes que, na realidade, está espécie tem duas formas distintas, cujos rastros evolutivos se bifurcaram há 2,5 milhões de anos. “Como é possível desenvolver estratégias para preservar entidades genéticas muito diferentes se não se sabe o que são? Nosso trabalho é encontrar a primeira evidência molecular de algumas dessas divisões”, explicou Herbert.
A importância da proteção e conservação da diversidade biológica está no fato de os organismos vivos desempenharem funções importantes em todos os ecossistemas, como a purificação da água e do ar que todos os seres, incluídos os humanos, dependem para sobreviver. A diversidade de espécies interatuantes é a chave da saúde e resistência dos ecossistemas, segundo os especialistas. Usar o DNA para a identificação das espécies não é uma prática nova, mas, o que Herbert e sua equipe desenvolveram é um mecanismo que padroniza, acelera e barateia a análise. “Três horas e US$ 5 em substâncias químicas” é tudo que se precisa para identificar uma espécie a partir de uma mostra de decido, explicou.
O DNA, que aparece em todos os seres viventes, é uma molécula complexa que contém todas as instruções genéticas para que um organismo se desenvolva. Não causa surpresa que o DNA de um ser humano seja diferente e mais complexo do que o de um inseto, embora o de um rato sejam semelhante ao de um humano. As diferenças entre os milhões de peças que compõem o DNA de duas distintas espécies animais são muito difíceis de encontrar. Depois de 20 anos de pesquisa e vários outros de testes, Herbert conseguiu identificar a porção de um gene chamado citochrome c oxidase I (COI), que, aparentemente, é o código de barras de todas as espécies animais.
A partir deste avanço, os inspetores aduaneiros e os guardas de parques poderão determinar se um carregamento de peles ou de filés animais procedem de espécies cuja caça é ilegal, disse o especialista. Também os funcionários dos aeroportos poderão identificar os restos das aves que acabam na turbina dos aviões, com desastrosas conseqüências para elas e, em certas ocasiões, também para as aeronaves. Milhares desses “ataques de aves” acontecem a cada ano e poderiam ser evitados identificando os animais e impedindo que façam seus ninhos perto dos aeroportos.
A nova tecnologia já é usada para estabelecer os limites dos parques nacionais de Madagascar e para entender o impacto do desenvolvimento econômico nas selvas amazônicas. E nenhuma dessas aplicações é tão controvertida quanto a descoberta, chocante para os ornitólogos e praticantes de avistamento de aves, de 15 novas espécies em Estados Unidos e Canadá. “Há 15 espécies passadas pro alto, geneticamente diferentes mas que parecem iguais a outras”, disse à IPS um dos autores do estudo divulgado pela Molecular Ecology Notes, Mar,k Stoeckle, da Universidade Rockefeller, de Nova York.
Considerando o quanto estavam bem estudadas as aves norte-americanas, está descoberta é toda uma surpresa, segundo Stoeckle. “Pode-se usar o DNA por si só para definir uma espécie? Talvez no futuro, mas agora necessitamos da opinião dos especialistas”, acrescentou. Alguns desses especialistas afirmaram anteriormente que está tecnologia ainda não provou ser rigorosa. A identificação e classificação de espécies é o objeto de uma disciplina denominada taxonomia, com uma rica tradição científica de mais de três séculos. De qualquer maneira, as novas análises indicam que “há vários casos de profundas divergências genéticas dentro do que hoje se considera uma espécie única”, afirmou Herbert.
Embora espécies de aves possam parecer muito semelhantes ao olho humano, uma espécie não se parecerá com outra que tenha um “código de barras” diferente. Por outro lado, as novas espécies de aves e morcegos ainda não têm um nome que as diferencie. O assunto é objeto de uma intensa discussão científica. “Se dissermos que a partir de agora o DNA é o único meio para identificar as espécies, se levantaria as penas de alguns pássaros”, observou Herbert. A taxonomia constitui uma tarefa difícil e tediosa e ganhar experiência demora muitos anos.
Stoeckle descobriu há tempos uma centopéia incomum no Parque Central de Nova York. Especialistas na Itália demoraram quatro anos de trabalho para identificar esse espécime como uma nova espécie, tendo sido necessário compará-lo com todas as centopéias antes identificadas. O código de barras do DNA aceleraria muito o processo, disse o cientista. Por outro lado, está nova tecnologia permitiria identificar todos os seres viventes do planeta. Hoje, não estão identificados todos os cerca de 5.500 mamíferos da Terra. Para os biólogos, sem incluir as bactérias e os fungos, deve haver cerca de dois milhões de espécies distintas.
Herbert afirmou que demoraria apenas sete anos criar uma “biblioteca” de códigos de barras de DNA na qual estariam identificadas meio milhão de espécies, incluídos insetos, invertebrados e peixes, a um custo bastante modesto: US$ 100 milhões. Os esforços para financiar o já denominado Sistema de Código de Barras da Vida estão em curso. Está “biblioteca” já catalogou mais de 25 mil espécies. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/ IPS)
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